A fala tem poder, a escuta também

A comunicação interpessoal bem feita, transparente e eficiente é uma arte, é uma das poderosas ferramentas da Inteligência Social, capaz de promover a negociação de conflitos, o estabelecimento mútuo de acordos e metas, o entendimento de perspectivas diferentes e o cultivo da convivência pacificada. Palavras têm poder e podem curar, podem ajudar; para isso ocorrer, o exercício da escuta é igualmente necessário.

O primeiro aspecto de uma comunicação interpessoal eficiente é, assim, saber escutar. Hoje em dia existem diversos cursos de oratória, todo mundo quer falar, quer desabafar; com isso, a conseqüência é que a demanda de ter bons ouvidos é essencial para não bloquear a comunicação, que sempre deve ser um canal que transmite em duas direções. É importante saber falar, mas é mais importante saber escutar. Deveríamos freqüentar mais cursos de “escutatória”, se é que isso existe, e se não existe vou até criar um (rsrsrs…). Então a questão fundamental é que, para me comunicar bem, o primeiro passo é entender a língua na qual meu interlocutor fala e o que está sendo falado. É uma linguagem emocional? Formal? O que sua fala traz? Aquilo que está sendo dito está claro pra mim? Se conseguirmos discernir estes pontos, então já é o começo da comunicação.

Escute com atenção. Muitos fingem escutar e soltam aqueles típicos “ahan…” ou “ah, sei…”, mas, enquanto isso, já estão maquinando o que vão dizer para “pegar” o outro na próxima jogada. Não se trata de um jogo, ninguém irá perder ou ganhar sozinho. Ou os dois ganham ou os dois perdem. Não se trata de discutir e defender pontos de vista como se fosse uma guerra, porque quando fazemos isso não estamos comprometidos com a verdade, mas sim estamos comprometidos em ganhar a discussão, e isso não traz nenhum crescimento para ninguém. A discussão é inútil, ninguém ganha.

Continue ouvindo. Evite interromper constantemente seu interlocutor. Deixe que ele esvazie seu conteúdo, às vezes as pessoas estão transbordando e precisam dar vazão a este conteúdo. Você não vai conseguir colocar mais chá numa xícara que está cheia. Se a pessoa fugir do assunto ou apresentar algum ponto contraditório ou obscuro em seu discurso, não ataque, não critique. Isso jamais funcionou. Ao invés, use a técnica da “retificação subjetiva”: faça uma pergunta retificadora do tipo “mas como é isso mesmo?” ou “eu não entendi bem, pode me explicar de novo?” e deixe que ele mesmo reformule o ponto.

Aguce seus ouvidos. Sempre há um momento propício para você começar a falar, geralmente há uma pausa respiratória no diálogo que significa ser um momento em que seu interlocutor está menos tenso. Este é o ponto propício, mas lembre-se de verter sua fala com delicadeza e precisão como se estivesse colocando chá em uma xícara de porcelana delicada. Não exceda o limite da borda, não verta rápido demais, lembre-se sempre que o volume vertido e a velocidade de vazão devem ser respeitados. Muitas vezes poucas palavras causam mais efeito do que uma enxurrada delas.

Seja claro no que disser, e certifique-se de que foi entendido. Esse é um ponto crítico, pois cada um entende de acordo com sua própria linguagem interna: pergunte a um alemão que som faz um cachorro latindo e ele responderá “wolf, wolf”. Isso é sério, o “au, au” é só em português. Mas não tente fazer o outro mudar de opinião ou a aceitar suas convicções; não gaste energia com isso, pois não depende de você. Se for o caso, isso acontece naturalmente, sem violência ou uso de força.

A comunicação tem mais a ver com se colocar no lugar do outro e tentar entender como ele vê o mundo. Apenas quando entendo o outro é que tenho uma chance de colocar o que necessito dizer com igual entendimento e aceitação. E quando o outro se sente entendido, a confiança na comunicação aumenta. Saber falar é saber escutar.

Votos de luz aos ouvidos,

Gustavo Mokusen. 

6 comentários em “A fala tem poder, a escuta também”

  1. Ótimo texto Gustavo, aliás, todos eles. Tenho lido diariamente.
    Precisamos, realmente, saber ouvir e falar na hora certa.
    Parabéns pela iniciativa!
    Abraço,
    Paula.

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