Os limites da Filosofia

A Filosofia por si não pode melhorar o mundo.

É o mundo melhorável ? Sim, certamente o é. Podemos matar a sede de alguém, ou dar de comer a uma pessoa, ou ajudar um conhecido no momento de dor, se por melhorar o mundo entendemos tornar a existência mais equilibrada, menos sofrida. Ou ainda, caso queiramos melhorar o mundo através de coisas materiais que nos tragam conforto ou que solucionem nossos problemas, podemos produzir bens materiais e tecnologias capazes de nos ajudar a solucionar estes problemas. Mas isso não se faz só com Filosofia. Tudo isso é realizado através de ações, através da intervenção direta no mundo onde ocorrem os fatos, e não apenas na esfera do pensamento − aquela instância onde representamos os fatos. O mundo não pode ser melhorado apenas em pensamento, mas sim através de ações que alterem os fatos.ff

A Filosofia deve estar limpa de promessas que não pode cumprir; por isso, deve ser uma atividade através da qual a representação do pensamento torna-se mais clara, mais consciente. A questão é que uma vez reconhecida esta diferença − a diferença entre um fato e sua representação na mente − podemos sanear nossas representações mentais e devolver a Filosofia ao seu lugar apropriado, o de uma atividade de correção do pensamento. Assim, essa pretensão confusa e ingênua de mudar o mundo (através do filosofar) não será em vão alimentada. Provável pode ser que aquele que tenha seu pensamento esclarecido pela atividade filosófica possa, assim, agir de forma mais acertada no mundo; mas não confundamos os meios com as finalidades alcançadas. Se isso acontecer, benefícios serão produzidos por aquele que conseguir transformar um pensamento clarificado em ação correta no mundo, e dele serão os méritos por ter transformado o mundo através do agir.

Assim é o mundo – resolve-se em fatos, que são precedidos por ações coordenadas por pensamentos esclarecidos.

Gustavo Mokusen

3 comentários em “Os limites da Filosofia”

  1. Acho que vivemos um momento de excesso de fatos quase nunca precedidos de ações coordenadas por pensamentos esclarecidos. Penso inclusive que era hora de “amolarmos os machados”.

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  2. Permita-me descordar, gosto muito de seus artigos, da linha oriental que parece seguir, mas neste caso filosofia no fundo tem uma ligação com a espiritualidade, dependendo de como a emprega, em alguns casos ela abre sua mente de forma a ter uma outra visão de vida, entendimento, profundidade do ser, com isso mudar suas atitudes, e dai te impulsionar a agir. Sócrates foi um exemplo disso, por ser o primeiro a falar sobre a alma humana em seu teor.
    Paro por aqui, pois falo tanto quanto escrevo ou escrevo tanto quanto falo, rs…

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    1. Oi Linemara, obrigado pelo comentário. Sua opinião é muito valiosa.

      Mas veja, a linha oriental de pensamento que, de fato, sigo, justamente é a linha zen que mostra a limitação do pensamento racional cartesiano e a importância da ação consciente. Em outras palavras, o que escrevi não está de forma nenhuma em contradição com essa linha.

      Também, a Filosofia, como ciência do pensamento, está muito bem alicerçada em paradigmas teóricos, pressupostos estes que a colocam muito bem definida em seus limites de observação, descrição, e validação do objeto de seu estudo. Não sei se a espiritualidade, na acepção pura do termo, poderia ser definida como um ramo da Filosofia ortodoxa, talvez a metafísica seria mais o que se aproxima disso. Claro que existem as livres associações de conceitos, as filosofias continuamente criadas por pessoas que, às vezes, nem são da área. A propósito, Sócrates não foi o primeiro a falar sobre a alma, os pré socráticos já tratavam do assunto da alma e do divino, de Tales de Mileto até Pitágoras, além de outros filósofos fora do eixo ocidental helênico, como o grande Hermes do Egito antigo. Mas o grande ponto colocado em meu texto é: falar (filosofar) sobre bem não significa, necessariamente, fazer o bem. Esse é o ponto principal de reflexão.

      Mais uma vez, obrigado pela participação.

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